Na plenária do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso, Francisco convida a considerar as histórias, desejos, feridas e sonhos de cada credo religioso: entre indiferença egoísta e protesto violento há a opção do “convívio das diferenças”, um caminho de busca de Deus vivido na fraternidade.
Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, na Sala Clementina, no Vaticano, nesta segunda-feira (06/06), os participantes da plenária do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso, um dia após à Solenidade de Pentecostes.
Francisco enfatizou isso, “porque São Paulo VI anunciou o nascimento do “Secretariado para os não-cristãos” na Homilia de Pentecostes de 1964, durante o Concílio Vaticano II, antes da promulgação da Declaração Nostra Aetate sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs, e antes da Encíclica Ecclesiam suam, considerada a carta magna do diálogo em suas várias formas”.
Segundo o Papa Francisco, a intuição de Paulo VI “se baseava na consciência do desenvolvimento exponencial das relações entre pessoas e comunidades de diferentes culturas, línguas e religiões – um aspecto do que hoje chamamos de globalização, e colocava o Secretariado «na Igreja como sinal visível e institucional do diálogo» com as pessoas de outras religiões”.
O diálogo é sempre uma opção possível
No último domingo (05/06), Solenidade de Pentecostes, entrou em vigor a Constituição apostólica “Praedicate Evangelium” sobre a Cúria Romana, “e este setor de seu serviço à Igreja e ao mundo não perdeu nenhuma de sua relevância”, frisou o Papa. “Pelo contrário”, disse ele, “a globalização e a aceleração das comunicações internacionais tornam o diálogo em geral, e o diálogo inter-religioso, em particular, uma questão crucial”. Francisco manifestou satisfação pelo tema escolhido, “Diálogo interreligioso e convívio”, “num momento em que toda a Igreja quer crescer na sinodalidade”, tendo como “paradigma da espiritualidade do Concílio” a Parábola do “Bom Samaritano”, segundo a qual “o rosto de Cristo se encontra no rosto de cada ser humano, especialmente do homem e da mulher que sofrem”.
O nosso mundo, cada vez mais interconectado, não é do mesmo modo fraterno e convivial, pelo contrário! Nesse contexto, seu Dicastério, “consciente de que o diálogo inter-religioso se concretiza através da ação, do intercâmbio teológico e da experiência espiritual, promove entre todos os homens uma verdadeira busca de Deus”. Esta é a sua missão: promover com outros fiéis, de maneira fraterna e convivial, o caminho da busca de Deus; considerando as pessoas de outras religiões não de forma abstrata, mas concreta, com uma história, desejos, feridas e sonhos. Só assim poderemos construir juntos um mundo habitável para todos, em paz. Diante da sucessão de crises e conflitos, “alguns tentam fugir da realidade refugiando-se em mundos privados, outros a enfrentam com violência destrutiva, mas entre indiferença egoísta e protesto violento há uma opção que é sempre possível: o diálogo”.
Convívio das diferenças para um futuro feliz
Segundo o Papa, “cada homem e cada mulher é como um pedaço de azulejo de um imenso mosaico, que já é bonito em si mesmo, mas somente junto com outros pedaços compõe uma imagem, no convívio das diferenças”.
Ser convivial com alguém também significa imaginar e construir um futuro feliz com o outro. O convívio, na verdade, ecoa o desejo de comunhão que habita no coração de cada ser humano, graças ao qual todos podem conversar uns com os outros, podem trocar projetos e delinear um futuro juntos. O convívio une socialmente, mas sem colonizar o outro, preservando sua identidade. Nesse sentido, tem uma relevância política como alternativa à fragmentação social e ao conflito.
Por fim, o Papa encorajou os participantes da plenária do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso “a cultivarem o espírito e o estilo de convívio em suas relações com as pessoas de outras tradições religiosas”. “Precisamos muito disso hoje na Igreja e no mundo! Lembremos de que o Senhor Jesus fraternizou com todos, frequentou pessoas consideradas pecadoras e impuras, compartilhou sem preconceitos a mesa dos publicanos. E sempre durante uma refeição de convívio Ele mostrou-se como o servo e o amigo fiel até o fim, e depois como o Ressuscitado, o Vivo que nos doa a graça de um convívio universal. Essa é a palavra que eu gostaria de deixar a vocês: convívio”, concluiu.
Fonte: VaticanNews